É cedo para considerar que a opinião pública condena o ex-presidente Lula

. Foto - Ricardo Stuckert

A mais recente pesquisa Datafolha informa que para 54% dos entrevistados a prisão de Lula foi justa. O ex-presidente foi condenado, no caso do triplex de São Bernardo do Campo, a cerca de nove anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro. Esta pena foi aumentada para cerca de doze anos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Avalio que 54% é pouco, ainda mais considerando que para 40% a prisão foi injusta. Há números que reforçam esta convicção.

Como dizem os que disputam a Presidência da República, sobre pesquisas eleitorais, é muito cedo para averiguar a viabilidade das candidaturas. Acredito que também se pode chegar a conclusão que é muito cedo para se ter certeza que a população acha justa ou não a prisão do ex-presidente. Ocorre que 48% considera que ele deveria disputar as eleições de 2018. Não é pouca coisa. Outros 36% dizem que os condenados em 2ª instância não deveriam ir para a prisão e que isso só deveria ocorrer depois de esgotados todos os recursos possíveis. Mesmo com Lula preso, é expressiva a descrença na Operação Lava Jato, pois para 68% a maioria não será presa. Mas Lula já está preso.

As delações premiadas de testemunhas presas durante dois anos, a teoria do “domínio do fato”, a lambança de sua vida financeira pessoal e a pressão da mídia e das elites prescindiam de qualquer prova material. Por conta desse procedimento, Lula estava condenado desde o início e isso vale para o senador Aécio Neves e o presidente Michel Temer, quando concluir seu mandato. Não sei dizer quantos são os processos que Lula responde (parece que são seis), mas já podemos antecipar, em primeira mão, que ele será condenado em todos ou vários deles.

A próxima condenação virá no caso do sítio de Atibaia. A linha de acusação que o condenou no caso do triplex não poderá ser deixada de lado. Ainda mais que o sítio foi usufruído por Lula em alguns finais de semana e o triplex nunca foi habitado por ele. Para ser coerente, considerando os critérios anteriores, baseados em delações premiadas, o juiz Sérgio Moro não poderá pedir uma condenação inferior a nove anos nem o TRF-4 pedir menos de 12 anos de cadeia. Logo, logo, Lula estará condenado a 24 anos. Imagina se a condenação ocorrer antes das eleições de outubro.

Escrevo estas linhas, para me perguntar (depois do ex-presidente ter sido condenado a 24 anos) se a maioria ainda vai considerar justa sua prisão e condenação? Quantos brasileiros vão assumir como real o discurso de que Lula é vítima pelo que fez pelos mais pobres? Qual será a imagem do juiz Sérgio Moro, do TRF-4 e do STF nestas novas condições de temperatura e pressão? Como o Poder Judiciário e o Ministério Público vão reagir a esta realidade ou evitar que ela se manifeste?

Vai condenar o presidente Michel Temer? Colocar na cadeia o ex-governador Eduardo Azeredo? Vai mandar prender o senador Aécio Neves? Vai denunciar, durante a campanha, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no processo do operador do PSDB, Paulo Preto? Depois que o ex-presidente Lula foi preso, vale tudo. Fico imaginando aquele procurador Deltan Dallagnol, com um PowerPoint ilustrando seu discurso, descrevendo os partidos como organizações criminosas e que disputam o mercado da corrupção no Brasil.

Ou será que ele vai livrar alguém. Quando esse processo começou, os adversários do PT soltaram foguetes. Não imaginavam que eles também entrariam no alvo. Hoje estão todos na roda. Falam até em tentar reduzir o poder do Ministério Público. E é bom ir se acostumando com a “prepotência” do Judiciário. Estes dias aumentaram o tempo de mandato dos 11 ministros. Logo depois disseram que era ilegal a ex-presidente Dilma nomear Lula ministro da Secretaria Geral da Presidência. Agora a Procuradora-Geral, Raquel Dodge, quer que o STF anule a decisão do presidente Temer de ter transformado a Secretaria Geral em Ministério. Um pouco antes, os “supremos” ministros impediram que Temer nomeasse ministra a deputada Cristiane Brasil, por conta de um processo por crime comum. No final do ano, um “santo” ministro limitou o poder de conceder indulto do Presidente da República. Deve ter mais alguma coisa que deixei passar. Dito isso, vamos em frente.

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