Como o PT rejeita Ciro para não pôr em risco sua hegemonia na esquerda

O ex-presidente Lula e o ex-governador Ciro Gomes, ambos postulantes à cadeira presidencial

Em grupos virtuais de esquerda, o pau tá quebrando entre defensores e oponentes de Ciro Gomes como alternativa ao impedimento de Lula, enquadrado na Ficha Limpa, na corrida ao Palácio do Planalto. Por exemplo, no Foro Anti-Golpista – grupo criado para combater o impeachment de Dilma Rousseff, que contabiliza 45 mil membros – o debate está bem acirrado. Entre os que se manifestam, uma acentuada maioria nega apoio a Ciro, alguns a ponto de chama-lo de traidor, abutre, tucano disfarçado, golpista, oportunista, entre outros impropérios.

Mesmo em aparente minoria, outros participantes do tal Foro insistem que, com Lula fora do páreo, a união em torno de Ciro é a única saída para evitar a derrota das esquerdas na sucessão presidencial. Ana de Hollanda, ex-ministra da Cultura no governo Dilma, endossou esse coro: “Voto de cabresto de direita ou de esquerda é um retrocesso cultural e cívico. Votei sempre no Lula e duas vezes na Dilma. Agora o único candidato em condições de enfrentar a direita e colocar o país no eixo é Ciro”.

Ex-ministra Ana de Hollanda. Foto Orlando Brito

Ana de Hollanda diz que expressa “o que grande parte da esquerda está pensando”. Pelo menos ali ela não fez muito sucesso. Alguns chegaram a dizer que não votam em Ciro nem se Lula mandar. Ciro até agrada a governadores e a outras lideranças petistas, mas não é aceito pela máquina partidária.

São vários os motivos do pé atrás do PT com Ciro Gomes. Alguns bem justificáveis,como a incerteza por causa de sua trajetória política, marcada por zigue-zagues, e a desconfiança em suas credenciais de esquerda. Outros mais pragmáticos, alimentados pela burocracia petista, que resiste a pôr fichas em Ciro, com receio de uma aposta perde-perde qualquer que seja o seu despenho nas eleições. Mesmo sendo um franco-atirador, sem capacidade de articulação orgânica, se vitorioso, com o apoio dos partidos de centro-esquerda, ele simplesmente substitui o PT como força hegemônica nas esquerdas. Mesmo se perder, em um páreo que o petismo seja apenas coadjuvante, quebra a mística do partido e se credencia como novo polo de atração no campo das esquerdas.

Ao longo de sua história, o PT deixou claro que até engole derrotas para adversários tidos como de direita, mas jamais abriu mão de dar as cartas nas esquerdas. Sempre foi mais duro nesse enfrentamento.

Mesmo com Lula na cadeia, inelegível, a burocracia petista vai resistir ao máximo aos chamados Planos B e C. É que, na sua lógica interna, o que está em jogo é sua sobrevivência como aparelho partidário.

A conferir.

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