De Roraima à Lei da Anistia, clima azedo entre os verde-oliva

O clima azedou nos meios militares nas últimas 48 horas. As autoridades do Exército não ficaram nada satisfeitas com a nova missão em Roraima – mais uma vez, fora das atribuições constitucionais das Forças Armadas, razão alegada também para que as tropas não permanecessem no Rio de Janeiro para cuidar da segurança. Mas elas ficaram. E agora a tensão aumentou ainda mais com o parecer da PGR Raquel Dodge pedindo que o STF retome a ação contra os acusados de matar o ex-deputado Rubens Paiva, numa rediscussão da Lei da Anistia.

Sobrou para o verde-oliva de novo – é a frase que circula nas conversas e mensagens de whattsup trocadas entre generais, comandantes e oficiais do Exército. Eles estão preocupados porque, embora tenham poder de polícia para combater o crime nas fronteiras, não possuem autoridade legal para tratar da questão migratória, incumbência que agora estão recebendo no estado de emergência decretado pelo presidente Michel Temer para lidar com a imigração em massa de venezuelanos para Roraima.

“Agora somos serviço de imigração e escritório de refugiados”, comenta um oficial de alta patente. Os militares não gostaram da entrevista de Temer ao lado da governadora Suely Campos e da prefeita Tereza Jucá, na viagem do presidente ao estado no início da semana, e não gostam de ver os interesses políticos de cada um misturados às ações em relação ao problema dos venezuelanos. E acham que, até o momento, outros órgãos federais falharam no atendimento e na ajuda ao estado, já que o problema não é apenas de segurança das fronteiras, mas sobretudo social.

Nesse clima, setores militares agora temem uma rediscussão da Lei da Anistia e de episódios relacionados à morte e tortura em instalações militares, que consideram superados pela anistia.

O maior risco para o governo e para as forças políticas do campo governista, neste início de ano eleitoral, é ver engrossar o apoio dos setores ligados aos militares à candidatura Jair Bolsonaro. Até pouco tempo atrás, Bolsonaro tinha o apoio dos jovens oficiais do Exército, mas a franca antipatia das altas patentes. Coronéis e generais não guardam boas lembranças de episódios de indisciplina do hoje deputado em seus tempos de caserna.

As insatisfações acumuladas nesses episódios, as seguidas investigações de corrupção envolvendo pessoas do governo e, sobretudo, a falta de uma alternativa – não apareceu nenhum outro candidato forte à direita –  estariam mudando esse sentimento, segundo relato de quem transita nas Forças Armadas. Hoje Bolsonaro estaria ampliando seu eleitorado verde-oliva.

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