Sugestões de Patrus Ananias para o reerguimento do PT

O deputado e ex ministro Patrus Ananias, foto Orlando Brito

O deputado federal Patrus Ananias (PT/MG) é um dos últimos cardeais do Partido dos Trabalhadores na ativa e com mandato. O ex-prefeito de Belo Horizonte e deputado reeleito está se empenhando em reerguer o partido que fundou, duramente abalado nas duas últimas eleições: “O PT tem de fazer seu exame de consciência, de fazer sua reflexão política, tem de dar meia-volta às bases, adotar a uma nova política de promoção com os movimentos sociais, entidades da sociedade, escolas, universidades, juventude”.

O veterano político mineiro acredita que “Vão crescer dentro do PT movimentos de baixo para cima neste sentido da renovação. Quando começamos ( década de 1980) ninguém acreditava que o PT chegasse onde chegou. O fundamental agora é definirmos o que vamos fazer nos próximos anos”.

No momento o PT está à procura de um novo comando. Das lideranças antigas, a mais expressiva é a do veterano político mineiro. Entre os novos desponta o paulista Fernando Haddad, ex-candidato presidencial, que representa o núcleo hegemônico até então. Há também a atual presidente nacional, oriunda do Paraná, senadora e futura deputada Gleisi Hoffmann, que tenta se manter no cargo. Entretanto, os esteios petistas sugerem que seja chamado um nome fora de São Paulo e que seja emblemático, uma reserva. Neste caso, Patrus é um líder muito forte. E vem de Minas, do Vale do Jequitinhonha.

Patrus não se oferece, mas apresenta a tese: “Minas Gerais é uma síntese do Brasil. É o estado mais parecido com o País. O que acontecer no Brasil vai se repetir em Minas. Nós, mineiros, temos a característica de colocarmos o Brasil acima dos interesses locais e regionais, por mais legítimos que sejam”.

O PT mineiro chega no cenário nacional partidário com uma forte credencial: foi o único estado de fora do Nordeste em que a bancada estadual cresceu de fato. Em 2014 elegeu 10 parlamentares, perdeu dois nas janelas partidárias e recuperou estas duas cadeiras em 2018. “Em MG nos perdemos a eleição majoritária, mas mantivemos a votação proporcional, o que prova que o partido tem força no Estado. Temos de estabelecer uma estratégia para nos recuperarmos no campo majoritário. Ninguém constrói uma estratégia sozinho. Tem de ser compartilhada, tem-se de conversar com lideranças, com os eleitos para a Assembleia Legislativa e para Câmara. Precisamos retomar o trabalho de formação política. Com as responsabilidades que assumimos (governos e administrações) nos afastamos um pouco desse trabalho de base, de formação. Temos de usar as novas tecnologias os novos instrumentos de comunicação, precisamos trabalhar com as perspectivas de elevar o nível de consciência política das pessoas, dos mais pobres, trabalhadores, no sentido de alargar consciências, os corações”.

Patrus aponta uma prioridade para as ações de oposição ao novo governo: “Neste primeiro momento a nossa preocupação é com o destino do Brasil. O respeito aos direitos fundamentais, ao estado de direito, quais as políticas públicas o que nós vamos oferecer e que sociedade queremos construir? Quais são os valores fundamentais?” E reponde: “O valor fundamental é a vida. É proteger a vida, desde alimentação, segurança alimentar, trabalho, moradia, saúde, etc.”.

Também propõe um forte trabalho de arregimentação: “Trazermos as pessoas para o debate político. Levantarmos a questão de desenvolvimento partidário regional, sem perdermos vista do projeto estratégico, atentarmos também às potencialidades das macrorregiões, trabalhar suas potencialidades, suas vocações, articular-se com Igrejas, universidades, trabalhadores, empresários. Eleger vereadores e prefeitos, já com uma nova leitura de projetos para seus territórios”.

O parlamentar mineiro tem uma detalhada agenda para o desenvolvimento de seu partido: “Fundamental também é definirmos o que nós vamos fazer nos próximos anos. A oposição aos governos estadual e federal. Oposição firme no campo democrático, fazermos as mediações, estabelecer em que espaço a gente pode existir na sociedade? Temos desafios muito rigorosos de retomar nossos temas fundamentais. Porque um país como o Brasil, com as dimensões continentais não se encontrou? Onde estão as travas do Brasil? Privatização é a negação da construção de um país”, diz já se referindo ao novo governo federal.

Patrus Ananias foi ministro no governo Dilma, foto Joel Rodrigues

Ele sugere táticas para pôr em prática a oposição: “Sou cuidadoso neste sentido. Penso que nós o PT e as forças do campo democrático (esquerda) temos de trabalhar com cenários. Esse cenário de seis meses é impossível. Trabalho com o cenário do voo de galinha, aquilo que a ditadura conseguiu com o Milagre Econômico, de 68 a 73,74”, prevendo que o desempenho da gestão Bolsonaro deverá se esgotar rapidamente.

Na parte política, ele é um tanto pessimista: “Nós estamos vivendo um golpe. Até onde vai esse golpe? Concretamente se materializa em 2016, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Depois prenderam Lula, a maior liderança do país. Eu como advogado como professor de direito vejo isso como uma afronta. Terceiro: o congelamento de gastos, o chamado teto de gastos. A seguir, a reforma trabalhista. Conquistas históricas foram por terra. Retira-se dinheiro dos trabalhadores para aumentar o lucro. A tendência é que eles aprovem no Congresso as privatizações. Sou um mineiro apaixonado por MG, mas a minha preocupação maior hoje como deputado federal é com o Brasil.

Sobre o novo governante, Patrus é ponderado: Não subestimo ninguém. Há um processo de um golpe diferente. Eles não colocaram tanque na rua por enquanto. Como vivemos numa época demagógica, inicia-se com a negação da política. Considero, no caso do Brasil, que há interesses muito poderosos e esses interesses não podem ser subestimados. E eles podem apertar o cerco. Vão implantar o autoritarismo através dos processos legais, do legislativo. Pela via legislativa”.

Patrus se declara ativo e atento: “Tenho 67 anos. Gosto muito de ler e estudar (cita sua leitura do momento, o livro do jornalista Barbosa Lima sobrinho, “O Capital se faz em Casa”, sobre o nacionalismo japonês). Quero continuar dando minha contribuição. Tenho 53 anos de militância política. Comecei com 13 e 14 anos. Quero continuar dando, através de palavras e atos”.

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