Intervenção em Miami

Marcelo Crivella. Foto Orlando Brito

Muito já se disse sobre a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro. Eu já disse muito. Mas nada mais elucidativo do que as ações. Mais ainda que os discursos linha dura e as coletivas no estilo caserna. Os jornais do Rio trouxeram neste sábado, 10 – todos, sem exceção, com foto na capa, além da Folha de S.Paulo, menos burocrática do que o Estadão -, a imagem de um casal ajoelhado em frente a um quiosque na paupérrima Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, rezando, depois de implorar, para que um barraco não fosse varrido por escavadeiras. Leonardo Damasceno, evangélico,com a esposa grávida, imaginava sensibilizar os agentes da SEOP, a SS de Crivella para Ordem Pública, e o Exército, se ajoelhando diante do lugar que é o sustento da família há 15 anos. Não conseguiu evitar que virasse escombros.

O lugar se chama Praça Miami, a principal da região – não a Miami para onde Rodrigo Constantino costuma ir papear com o Pateta. Um espaço de trabalhadores, que há tempos tentam regularizar seus negócios junto à prefeitura, sem sucesso. As forças de segurança, nome que a mídia dá à joint venture de polícias de todas as praças, juntando Forças Armadas, Polícia Civil, Militar e quem mais aparecer com um fuzil ou uma marreta, já estavam no terceiro dia seguido de incursões na Vila Kennedy. Na véspera, fizeram uma ação de marketing, distribuindo flores às mulheres pelo seu dia, algo que só podia parecer bem intencionado para quem acha que flores de plástico não morrem, como cantariam os Titãs.

A ação derruba-quiosques-de-trabalhadores teve a participação de 1.400 (!) militares das Forças Armadas e agentes da Polícia Civil. Isso mesmo. A ação foi chamada de “pé na porta” por um dos presentes à reunião da cúpula da segurança no Centro Integrado de Comando e Controle. Isso mesmo. A Vila Kennedy se consolidou como uma espécie de laboratório da intervenção federal, iniciada no último dia 16. Oficiais utilizam drones para acompanhar a movimentação de soldados e fazem um mapeamento detalhado da favela. Em nenhum deles houve apreensão de armas. Fiasco completo.

A movimentação dos militares no Rio de Janeiro sob o comando do general Braga Netto, nomeado interventor, já está sob o foco e as atenções de distintos grupos, conselhos e observatórios. Precisa ficar agora sob a vigilância de sua consciência. Cujo primeiro conselho deveria ser: não confie em Crivella.

A intervenção no Rio, é, assim, tão fake quanto uma pedalada no sábado de manhã de Michel Temer ao lado da primeira-dama Marcela Temer. Não viram as fotos? Primeiro, eles não saíram das vias internas do Palácio do Jaburu. Segundo, Temer usava uma bicicleta nas cores cinza e roxa. Ou é piada pronta ou pegou a bike do Michelzinho. Terceiro (não é cascata, juro), ele pedalou vestindo roupa social. O suficiente para a imagem dos cinegrafistas, depois seguiu para os fundos do Jaburu. Onde, consta, foi descansar em seu caixão. Mas isso não é oficial.

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